sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O descabelamento...


Descabelamento é uma ação? Descabelamento é um estado? Descabelamento é um modo de ser?
Descabelamento é ...?
Descabelamento pode ser muitas coisas, pode somente ser o momento antes de pentear os cabelos (?).
Descabelamento pode ser provocado pelo dormir, pelo desespero, pelo odiar, pelo destemperar, pelo copular, pelo beijar, pelo ventar, pelo arrepio, pelo trabalhar, pelo dançar, enfim por diversas ações e diferentes situações, sob influencia de muitos estados emocionais.
A profundidade da construção “A inesperada beleza do descabelamento” se apresenta pela esperança de uma leitura mais profunda do que só o quando se fica louca, no caso das mulheres, você se descabela. Ai neste momento também!
O Descabelamento acontece em muitas situações femininas de intimidade, e digo assim deste modo querendo conversar mais com o amigo João.
O Descabelamento apresenta aspectos íntimos mesmo, ele esta dentro da pessoa descabelada, ninguém, homem ou mulher, cujo ego esteja funcionando em plena harmonia com as outras instâncias psíquicas, sai 'descabelado' no sentido de não se ocupar com sua razão deste descabelamento (acho que estou enrolada aqui).
O que quero dizer é: mesmo quando o sujeito ESCOLHE estar descabelado, ele assume a escolha! A intimidade expõe-se por escolha, o descabelamento tem um significado e ganha a esfera do público por alguma razão, se não o descabelamento continua fazendo parte da intimidade.
Ao apresentar “A inesperada beleza do descabelamento”, escolhemos abrir esta intimidade e mostrar-nos desmontando as belezas construídas externamente. Para além do cabelo que se desmonta durante a dança, camadas de humanidade vão aparecendo de modo cada vez mais claros e a dureza da solidão, dos limites entre os indivíduos vai sendo revelado. A claridade, que proporciona essa revelação se torna insuportável, como quando precisamos do distanciamento do outro. Afinal é a proximidade e do outro e o rompimento das 'barreiras' e limites que nos doem e nos afastam. Clarear e descabelar são signos da solidão necessária para o humano. São dimensões de construção humana que precisam ser preservadas.

domingo, 12 de agosto de 2012

ele agora se mostra

O trabalho está mostrando pra gente o que ele é. Criamos um monstro, Camila?

Já não consigo dizer que é sobre descabelamento, sobre solidão, sobre encontro ou desencontro. Tem um pouco disso, mas é outra coisa. Outra coisa que a linguagem verbal não dá conta de explicar. 

Temos ponto de partida, temos um trajeto, temos cenas, temos estudos dentro das cenas, temos um roteiro. 
O trabalho existe, enfim. E agora nos diz como nunca para onde ir. 

Deixemos então que o trabalho vá para onde quiser  no encontro/desencontro entre nós, artistas criadoras e os observadores criadores de sentido, e que estejamos todos conscientes, abertos e atentos. 

Talvez uma beleza inesperada possa surgir, 

Descobrindo o sentido sentindo


Neste último mês de ensaio, julho de 2012, algumas elaborações me ocorreram sobre o desenvolvimento da criação deste trabalho.
Percebi, vi, não sei exatamente que palavra utilizar mas o fato foi, senti-me incorporada de tudo o que construí junto com a Larissa.
Tive tempo de olhar o percurso da criação desde o início quando, em 2010, resolvemos ler uma peça e daí começarmos a coreografar uma dança que teria três personagens, um dos quais, masculino e virtual. Daí estudamos, tentamos criar solos diferentes, criamos danças que não se conectavam, pensamos em um espaço no qual o público entrasse já separado e daí começaria assistindo uma destas três figuras, mas nunca encontrávamos uma dança clara para essa proposta, até concluirmos que o terceiro sujeito masculino não fazia sentido pois ele era somente alguém que estava nas nossas ideias femininas e não era dele que estávamos falando, e sim de nós duas.
A mudança, recomeçamos os solos cada uma dando workshops para a outra, em busca de nos orientarmos para as construções coreográficas. Destes workshops conseguimos elaborar as qualidades de movimento aerada, irada e a desconexão dos membros superiores e inferiores, mas ainda não conseguiamos encontrar com clareza o assunto. Então num dia de cansaço e medo, pois já patinávamos há muito numa sopa sem sentido, conversamos, eu e Larissa, e conseguimos identificar ligações e conexões e estabelecemos um primeiro roteiro com cenas definidas mas que no nosso modo de dançar tornávamos uma sopa ainda maior...
Criar algo é frágil e requer muita coragem para poder desconstruir verdades sem jogar fora o conhecimento anterior. É um processo revelador das camadas deste conhecimento. É um ato de autonomia e dedicação ao mesmo tempo libertador quando se vê o chão sob os pés cansados e que cada passo dado foi uma escolha feita e mais um aprofundamento se revela para outra possibilidade do fazer.
Estes escorregões e incertezas, pelos quais passamos junto com todos os colaboradores que são também provocadores, Mariana, André, Cris Lyra, Suellen, Juliana, Henrique, Beatriz, e mais recentemente, Ishii, Renato, Paula, Luciano e Érica, foram se transformando em discurso.
Cada uma destas pessoas colaborou com honestidade em seu apontamento olhando o que se lhes apresentava de dentro, com perguntas que exigiam transformações desde a organização corporal, organização da cena até a elaboração do discurso sobre o trabalho.
Passamos ainda muito tempo na massa disforme, foram 5 meses de trabalho elaborando jogo de olhar, de campo de visão, de imitação, ainda descobrindo que o olhar do outro não era exatamente nosso assunto, que o fato de o outro existir com seu olhar não era exatamente o que fazia existir, o olhar do outro era parte do nosso discurso, mas não era o discurso propriamente dito até que em determinado momento de extremo cansaço, um entre o 'antes de desistir' e fazer existir nos demos conta de que a muito falávamos da solidão.
Foi dolorido assumir isso pois até então em todas as conversas havíamos feito desvios e voltas e contornos para evitar este assunto, mas era ela, a solidão, que se nos apresentava como assunto, claro e objetivo.
Como o momento era de assumir foi isso que fizemos. Logo no início dos trabalhos a Juliana sugeriu um 'livrinho', “Cartas a um Jovem Poeta”, que a Lari já havia lido e me emprestou, pois as cartas ajudaram a dar solidez para as elaborações. Vimos aspectos da solidão bastante fortalecedores, entendemos a solidão como a característica do humano. Também um estudo proposto pela Suellen sobre entendermos as imagens das nossas qualidades de movimento nos orientou e juntas estas duas provocações foram o ponto de mudança.
A solidão nos delimita, nos delineia, nos constrói alteridade, e daí nos próximos ensaios após experimentarmos descoladas daquilo que havíamos feito antes, dançamos.
Nos despojamos de tudo o que antes era a massaroca e aos poucos tudo o que estava misturado amalgamado se decantou mostrando muitas camadas que eram cenas claras do formas, qualidades de movimento, trajetórias no espaço, tempo de acontecimento e relação entre nós na cena e com os sujeitos que compartilham da dança ao nosso redor.
O despojamento e desapego de tudo apresentou possibilidade de escolhermos o que servia que dava integridade ao discurso e assim entendemos e de modo, agora olhado, bastante coerente elaboramos “A inesperada beleza do descabelamento”.

sábado, 19 de maio de 2012

Estudar a solidão é todos os dias.
Estudar só é todo momento, estar só.
No espelho, na poça d'água, no vidro da janela do trem, no vidro da janela da sala de ensaio me vejo, só a mim. Os outros reflexos me parecem mais íntegros. O que falta no meu?
Através destas janelas vejo o mundo, resguardada do som do mundo, o som destes espaços são como cortinas sonoras leves, me ouço.
Evito sempre os fones de ouvido, são horríveis enfatizadores do isolamento precoce.
Já estou sozinha!
Sem tampões me ouço insuportavelmente. Uma vez cedi, eu tentei escutar a música pelo fone, coloquei e ele ficou próximo, grudado no meu ouvido, meus pensamentos gritaram estupidamente mais alto.
Não posso compartilha-los, seria um ato desatinado deixá-los escapar! Alguns destes gritos me envergonham, mas eles saem...
A cada gesto, olhar, direção que eu tomo na rua, as vezes me perco, tamanha irritação me desvia por completo.
Retomo a calma.
Manter o foco, objetivo, cumprir compromissos, preencher tabelas, parar de refletir.
Se eu parasse de refletir ...
Chegaria

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sobre a dança aerada

Leveza insuportável como a felicidade de Clarice, que de tão viva precisa de uma pouco de morte para que possa seguir existindo. Quero te encontrar assim, eu-você-poros. Sei que o fim chega, possivelmente haverá um recomeço. Uma tentativa, uma espera, até que eu te encontre em mim. Café da manhã, travesseiro, nuvens. Quero inventar-te e de repente te descobrir outro, muito além do que imaginei.
Minhas partículas se desfazem pelo espaço. Recolho o que sobrou de mim e distribuo para os pássaros de uma praça no centro da cidade. Eu nunca terei as palavras pra te dizer a verdade.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

230412




Estudos de imagens da solidão, a árvore e abraço.
Tudo aconteceu sob o olhar atento do Renato que compartilhou conosco estes momentos bonitos e doloridos.
                                                                          

 


terça-feira, 17 de abril de 2012

170412


Reta final

Depois de um longo período sem notícias, voltamos.Estamos finalizando o trabalho. Passamos por muitos acontecimentos e elaborações sobre o que é trabalhar de modo independente e assumindo todas as decisões sobre o modo de gerenciar o treinamento, a organização do dia de trabalho, o processo de criação, enfim. Neste texto quero compartilhar algumas passagens para também entender pelo que passei.Primeiro fomos para uma sala vazia com a ideia de falar sobre as solidões, dai lemos Sartre e nos unimos, convidamos mais algumas pessoas para essa viagem sem destino, mas com objetivo de montar uma peça de dança. Depois do Sartre descobrimos Freud e vislumbramos nosso assunto: a relação humana; um assunto sem limites. A ideia de duas personagens, mais um vídeo personagem foi sendo modificada conforme íamos desvendando o que queríamos dizer sobre as relações. Descobrimos então que os treinos que fazíamos não nos ajudavam para a criação, redescobrimos nossas aulas com Lucia Lee, nossas experiencias com a coordenação motora e com os sentidos dos nossos corpos, passamos bastante tempo treinando. Junto com o treino nos dávamos ensaios, e deles vieram nossas qualidades de movimento, as cenas e descobrimos que a peça acontece na relação.Tudo o que buscávamos no início: que faríamos apresentações e as reações do público nos daria o caminho para mudança, que falaríamos de relações entre indivíduos, que falaríamos de nós; esta alí.O mais importante, para mim, foi perceber que traçamos um caminho que em princípio, eu pensava, era só 'corporificar'. Se tivesse acontecido assim não teríamos aprendido tanto, pois teríamos copiado fórmulas com as quais já atuamos, e o desafio teria sido outro. O desafio, neste projeto 'Sob o olhar do outro' foi o de viver momentos de incerteza completa, de confiar no que estávamos fazendo, de dar espaço para compreender o caminho que foi percorrido e dai estabelecer parâmetros para dizer o que cabe e o que não cabe na cena, o que tem ou não coerência. Foi o desafio da escuta.Neste tempo contamos com amigos, parceiros, que se dispuseram a conversar com respeito e profissionalismo. E agora contamos novamente com eles, estamos literalmente 'sob os olhares' deles para em relação finalizar a peça que, por princípio, será recriada a cada momento/apresentação, a cada nova relação estabelecida.