domingo, 24 de julho de 2011

Considerações Sonoras (Parte I)

(por André Mestre)

Durante um dos ensaios do Liame, me fazia a pergunta inevitável e sempre não-resolvida - como compor a contraparte sonora daquilo que eu via? Que sons lhe fariam jus?

Em seguida a pergunta me pareceu despropositada: tudo o que existe, existe numa relação directa com sua manifestação sonora (mesmo que muda) da qual é inseparável. Uma ideia ganha concretude quando, na forma de voz, ela é expressa; um movimento, em contato com o meio, produz seu som característico. Tudo isso se distancia da noção de 'apropriado ou não'.

Surgiu a vontade de trabalhar esse registro sonoro, captado em ensaios. Incluir nesse registro os impulsos musicais utilizados, que ajudaram a dar forma ao movimento coreografado ou ao improviso tantas vezes repetido. Tais impulsos, parte fundamental do processo de laboratório, tem uma relação sensível com resultado. Uma coerência, mesmo que velada pelo percurso.

Estabelecido o material, algumas coisas começam a ganhar forma na imaginação: som de vozes, de respiração, do membro cortando o ar, da música costurando tudo isso, do tablado cantando.