quinta-feira, 31 de março de 2011

Alguém!

Aproveitando as reflexões deixadas pela Camila, fiquei pensando nos diferentes relacionamentos que existem no fazer musical - mais especificamente o fazer musical "solitário" e "fora do tempo", no qual me encontro constantemente.

Existe um relacionamento que antecede a primeira nota, o primeiro som; antecede até mesmo o silêncio que prepara para esse marco (e que funciona como ‘conjunto vazio’ da peça toda). É o relacionamento hipotético que se dá entre o compositor e uma abstração: a soma das escutas dos ouvintes. Normalmente é para esse polinômio estranho (x1 + x2 + x3 ... + xn / n) que o compositor pensa o primeiro momento. Disso parece resultar um dos teoremas da modernidade: O número de escutas (“n”) levadas em conta pelo compositor é inversamente proporcional ao hermetismo do trabalho – imaginamos então uma situação limite onde uma peça é escrita para apenas uma escuta.

Afastando-se do primeiro momento da peça, surge o relacionamento metalingüístico da peça com ela mesma (‘o que acontece’ em relação puramente musical com ‘o que aconteceu’) e da peça com relação ao repertório (em uma relação lingüística e também sociológica, blá blá blá né).

Em ‘música para dança’ temos ainda a adição de outras relações: lógicas musicais e lógicas da ordem do movimento; lógicas da afetividade musical e da afetividade coreográfica; lógicas cênicas, plásticas etc.

Se toda essa somatória tende a virar uma espécie de lodo teórico, a cada vez que penso a respeito, vejo que ‘criar’ é uma ação que ganha energia da fricção [e da nossa tomada de consciência] dessas tantas forças simultâneas. Nesse sentido, a obra é uma faísca nascida de um ajuste fino, de um mirar contínuo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

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Pergunta? Resposta.

Larissa : Como foi estar sozinha?

Camila: Difícil, por causa da concentração. Demorei pra conseguir me concentrar. Agora eu percebi que esqueci dos saltos. O assemblé e o grand jeté, acabei de perceber que não fiz. Tive que voltar muito pro caderno pra ver o que aconteceria na exploração. Depois me envolvi com a exploração do centro e desencanei do caderno. Depois voltei pra ele pra olhar as outras explorações, concentrado e expandido. Não filmei. Quando eu fui filmar comecei de novo o que eu tinha feito do estudo dos níveis do expandido e concentrado. Aí explorei 10 minutos sozinha. Não foi muito. Aí assisti o que filmei, e vi que algumas coisas deram errado. No final, consegui encontrar uma estrutura. Encontrei formas que me ajudaram. A oposição do chão também me ajudou.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Alguém?

A vivencia da construção de um trabalho com colaboradores é o que estamos experimentando aqui. Liame é assim, um bom modo de nomear algo que é gerúndio.

Fazemos e refletimos, construímos, destruímos, transformamos e reconstruímos a cada encontro e a cada nova leitura.

Estamos agora criando uma oportunidade para sintetizar o que vivemos e observar como construímos um processo e uma obra, se assim podemos chamar um trabalho nos tempos de hoje sem a aura, chamemos então de trabalho!

Estamos revendo a nossa experiencia com o público, reconstruindo a realidade a partir do nosso ponto de vista.

Escolhemos o que é que os relacionamentos humanos proporcionam aos indivíduos que deles participam (ou) são o agente causador! Difícil isto, os relacionamentos só existem porque existimos e só existem no momento em que acontecem! Redundante? Ou qual outra figura de linguagem pode ser citada aqui? Neste momento minhas dúvidas só fazem sentido porque imagino um interlocutor, este, no momento da minha escrita não existe. Preciso de um!

Ao propor a construção de uma instalação coreográfica contando com a colaboração de outros indivíduos para compor esteticamente este espaço eu me relaciono e construo modos de estar e ser no momento.

Vem as dúvidas:

Como estamos construindo estas relações de colaboração entre todos nós?

O que pensamos para este trabalho?

Como projetamos nosso futuro trabalho (obra) e como esta projeção nos influencia para revelar a sua construção?

Porque o processo de criação é tão intenso e caótico?

Será que o final deste processo será revelador de sínteses precisas daquilo que discutimos e das dúvidas nas quais estamos mergulhadas(os)? (Acho que esta pergunta não tem sentido, mas, fica a dúvida!!!!)

Ao contrário do que se espera na contemporaneidade nosso tempo de construção está lento, nosso espaço está reduzido e nosso peso leve. Ou tudo ao contrário, ou tem mais opções que correspondem a um mesmo item e ai sim somos contemporâneas(os)...